Portos da Bahia avançam em dragagem e acessos para receber navios “do futuro”

Obras e investimentos privados preparam o estado para padrões internacionais de carga e conectividade
Navios de quase 400 metros de comprimento e com calados mais profundos já estão no radar da infraestrutura portuária baiana. A dragagem na Baía de Todos-os-Santos, a ampliação de terminais e a integração com outros modais são algumas das frentes que devem reposicionar o estado quando o assunto é logística nacional e internacional.
As medidas foram debatidas nesta quinta-feira (14) no painel “Panorama e perspectivas da infraestrutura portuária da Bahia”, sob mediação da jornalista Milena Barreto, durante a segunda edição do Bahia Export – Fórum Estadual de Logística, Infraestrutura e Transportes, realizado em Salvador.
Antônio Gobbo, diretor-presidente da Companhia Docas do Estado da Bahia (Codeba), afirmou que o projeto de dragagem foi redesenhado para alcançar até 17 metros de profundidade, com calado dinâmico, garantindo a atracação de navios maiores que os de 366 metros já recebidos. “O que vem pela frente são embarcações próximas de 400 metros de profundidade e 70 metros de boca (largura). Precisamos estar prontos para esse padrão”.
Gobbo acrescentou que o padrão de navio conteineiro do futuro, “das próximas décadas”, vai ser de 400 metros, com 70 metros de boca. “É pra esse navio que teve que ser reprojetada (a dragagem). Esses navios têm uma parte submersa entre a linha d’água e a quilha de 16 metros, então nós precisávamos ter mais do que isso.”
O diretor-presidente da Codeba também citou a dragagem de manutenção em Ilhéus, atualmente operando com 10 metros de profundidade, e o projeto já incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para atingir 14 metros.
Helano Pereira, vice-presidente executivo da Ultracargo, destacou investimentos em Aratu que somam quase R$ 500 milhões, incluindo novo berço para granéis líquidos e mais capacidade de armazenagem. “Planejamos para 15 anos à frente. Canal, terminais e acessos precisam andar juntos para garantir eficiência e reduzir custos”, afirmou. Ele ressaltou ainda que toda a energia utilizada pela empresa vem de fontes renováveis e que há uma meta de ampliar significativamente a presença feminina na operação até 2030.
A secretária do Mar da Prefeitura de Salvador, Maria Eduarda Lomanto, defendeu que a capital consolide uma “cultura marítima” por meio de ações conjuntas com outras secretarias. “Estruturar marinas, píeres e rampas, integrar as ilhas e formar profissionais para o setor náutico e portuário é fundamental para transformar o mar em vetor econômico”, disse. Ela citou programas municipais de capacitação e novas rotas para aumentar a permanência de cruzeiristas na cidade.
Já Roberto Zitelmann de Oliva Jr., presidente da Intermarítima, pontuou que mais de 99% da carga baiana sai pela Baía de Todos-os-Santos, mas a vantagem natural se perde com gargalos de acesso. “Falta ferrovia e temos rodovias saturadas, como a BR-324 e a BA-528. Sem logística integrada, não há competitividade”, alertou, defendendo uma governança compartilhada entre o setor portuário e o poder público.
Para Gobbo, a prioridade agora é transformar planos em obras. “Vencemos o desafio do planejamento. Agora o desafio é executar, mesmo em um ambiente desafiador.”
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